Uma Mensagem que perdura

"E, respondendo ele, disse-lhes: Digo-vos que, se estes se calarem, as próprias pedras clamarão" Lucas, 19:40

Há até hoje mais de 5 mil manuscritos do Novo Testamento, o que o torna o mais bem documentado dos escritos antigos. Muitas cópias pertencem a uma data próxima dos originais. Há aproximadamente 75 fragmentos datados de 135 d.C. até ao século VIII. Todos esses dados acrescidos ao trabalho intelectual produzido pelos estudiosos da paleografia, arqueologia e crítica textual, nos asseguram de que possuímos um texto fidedigno do Novo Testamento, que contém as quatro biografias de Cristo, os quatro evangelhos.



"E Eu vou mandar sobre vós o que meu Pai prometeu. Entretanto, permanecei na cidade até serdes revestidos com a força do Alto." Lucas 24, 49
"Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte; ninguém acende uma candeia e a coloca debaixo do módio, mas no velador, e assim alumia a todos os que estão na casa. De tal modo brilhe a vossa luz diante dos homens, que eles vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus." Mateus 5,14-16

Uma análise recente do psiquiatra August Cury (Análise da Inteligência de Cristo – O Mestre dos Mestres, São Paulo,  Editora Academia de Inteligência, 6ª Edição, 1999permite constatar que os autores dos evangelhos não tinham a intenção de fundar uma filosofia de vida, de promover um herói político, de construir um líder religioso, nem um homem diante do qual o mundo deveria se curvar. Eles queriam apenas descrever uma pessoa incomum que mudou 
completamente a sua vida. Queriam registar factos mesmo que incompreensíveis e estranhos aos leitores, que Cristo viveu, discursou e expressou.  
Se os evangelhos fossem fruto da imaginação literária desses autores, eles não falariam mal de si mesmos, não comentariam a atitude frágil e vexatória que tiveram ao se dispersar quando Cristo foi preso. Nem teríamos detalhes da sua vida e angustia em biografias distintas mas complementares.

Segundo o psiquiatra August Cury (Análise da Inteligência de Cristo – O Mestre dos Mestres, São Paulo, Editora Academia de Inteligência, 6ª Edição, 1999), os princípios sociológicos, psicológicos e educacionais contidos na inteligência de Cristo podem enriquecer a sociedade moderna, independentemente da questão teológica, sendo úteis para a preservação dos direitos fundamentais do homem, para desbloquear a rigidez intelectual e para estabelecer a liberdade de pensar, estimulando a inteligência e a arte de se repensar.

Mas é tão difícil nos repensarmos que até os líderes políticos e intelectuais judeus  preferiram, ineditamente o reino de César que o de Cristo, traindo o seu desejo histórico de liberdade. Embora Ele não estivesse interessado em política, mas no interior do homem, a liderança judia sentia-se ameaçada pelos seus pensamentos, e rejeitou-o drasticamente.

As suas palavras tornaram-se perturbadoras demais para serem analisadas, principalmente por aqueles que amavam o poder e não eram fiéis à sua própria consciência. E o Mestre dos mestres foi banido da escola clássica.

Mas a revelação que nos fez, sobre a nossa própria ligação ao Pai, Deus de amor, perdura e renova-se, multiplicando-se quase do nada, nos momentos de maior necessidade dos homens, como que se da ação do Espírito Santo se tratasse.


Olhar hoje o movimento de Jesus Cristo


"Quem beber desta água terá sede outra vez, mas quem beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede. Ao contrário, a água que eu lhe der se tornará nele uma fonte de água a jorrar para a vida eterna." João 4,13-14

Temos viajado pelo imenso espaço e penetrado nas entranhas do pequeno átomo, mas a natureza intrínseca da 
energia psíquica, que nos torna seres que pensam e sentem emoções, permanece um enigma. E Jesus, que dividiu a história da humanidade, e acabou com o cárcere intelectual das pessoas, abrindo a janela das suas mentes, foi banido pela ciência, e deixado entregue apenas à esfera teológica.

Para Cury (1999), a inteligência de Cristo abre preciosas janelas que promovem o desenvolvimento da cidadania e da cooperação social, sendo capaz de expandir a qualidade de vida, superar a solidão e enriquecer as relações sociais.

Cristo discorria sobre a fé, que a ciência não tem como investigar, pois ela tem raízes no cerne da experiência pessoal, e portanto não se torna um objeto de estudo investigável. Ele falava da necessidade de crer sem duvidar, de uma crença plena, completa, sem insegurança. Falava da fé como um misterioso processo de interiorização, um viver que transcende o mundo material, que extrapola o sistema sensorial e que cria raízes no âmago do espírito humano. Mas Ele não anulava a arte de pensar; pelo contrário, era um mestre excepcional nessa arte. Cristo não discorria sobre uma fé sem inteligência. Para Ele, primeiro deveria exercer-se a capacidade de pensar e refletir antes de crerdepois vinha o crer sem duvidar

Por isso, Ele também era um mestre sofisticado no uso da arte da dúvida, usando-a para abrir as janelas da inteligência das pessoas que o circundavam. Era um ousado questionador, que usava a arte da pergunta para conduzir as pessoas à interiorização e a se questionar.

Um dos maiores problemas enfrentados por Cristo era o cárcere intelectual em que as pessoas viviam, ou seja, a rigidez intelectual com que elas pensavam e compreendiam a si mesmas e ao mundo que as envolvia.

Somos uma conta bancária, um título acadêmico, um estatuto social? Não. Somos o que sempre fomos, seres humanos.

Para Cury, as raízes da solidão começam a ser tratadas quando aprendemos a ser apenas seres humanos. Parece ser contraditório, mas temos grandes dificuldades em retornar às nossas origens, porque não aprendemos a interiorizar-nos e a procurar ajuda mútua, não conseguimos remover as nossas maquilhagens sociais, e ficamos agarrados à televisão e à internet, quando os prazeres mais ricos da existência, como a tranquilidade, as amizades, o diálogo que troca experiências existenciais, a contemplação do belo, são conquistados pelo que somos, e não pelo que temos. 

Cristo não frequentou os bancos de uma escola, nem cresceu aos pés dos intelectuais da época, dos escribas e fariseus, mas frequentou a escola da existência, a escola da vida. Nessa escola, conheceu profundamente o pensamento, as limitações e as crises da existência humana. No anonimato, passou pelas angustias, dores físicas, opressões sociais, dificuldades de sobrevivência, frio, fome, rejeição social.


Na escola da existência, os títulos acadêmicos, o estatuto social e a condição financeira não refletem a riqueza interior, nem significam sucesso na liberdade de pensar, na arte da contemplação do belo, no prazer de viver. A escola da existência é tão complexa que nela se pode ler uma infinidade de livros de auto-ajuda e continuar, ainda assim, a ser inseguro e ter dificuldade de lidar com as contrariedades. Na escola da existência o maior sucesso não está fora do homem, mas em conquistar terreno dentro de si mesmo; a maior jornada não é exterior, mas caminhar nas trajetórias do próprio ser, um ser intimamente ligado ao seu Criador, e respectivas leis.

Ele queria produzir uma revolução no interior do homem, uma revolução transformadora, difícil de ser analisada. Queria produzir uma transformação nas entranhas do espírito e da mente humana, capaz de gerar tolerância, humildade, justiça, solidariedade, contemplação do belo, cooperação mútua, consideração pela angustia do outro. Ele desejava continuamente romper a ditadura do preconceito e o cárcere intelectual dessas pessoas. Ninguém foi tão longe em querer implodir os alicerces da rigidez intelectual e procurar transformar a humanidade. 

A ciência não pode dar resposta a tantas questões que subsistem sobre Cristo, nem outras tantas, pois elas entram na esfera da fé, que é intima e pessoal de cada ser humano. A ciência não anula o espírito humano, e talvez um dia, diante dos seus limites, venha a completar-se com fenômenos que ultrapassam os limites da lógica clássica.