"Quem beber desta água terá sede outra vez, mas quem beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede. Ao contrário, a água que eu lhe der se tornará nele uma fonte de água a jorrar para a vida eterna." João 4,13-14 Temos viajado pelo imenso espaço e penetrado nas entranhas do pequeno átomo, mas a natureza intrínseca da energia psíquica, que nos torna seres que pensam e sentem emoções, permanece um enigma. E Jesus, que dividiu a história da humanidade, e acabou com o cárcere intelectual das pessoas, abrindo a janela das suas mentes, foi banido pela ciência, e deixado entregue apenas à esfera teológica. Para Cury (1999), a inteligência de Cristo abre preciosas janelas que promovem o desenvolvimento da cidadania e da cooperação social, sendo capaz de expandir a qualidade de vida, superar a solidão e enriquecer as relações sociais. Cristo discorria sobre a fé, que a ciência não tem como investigar, pois ela tem raízes no cerne da experiência pessoal, e portanto não se torna um objecto de estudo investigável. Ele falava da necessidade de crer sem duvidar, de uma crença plena, completa, sem insegurança. Falava da fé como um misterioso processo de interiorização, um viver que transcende o mundo material, que extrapola o sistema sensorial e que cria raízes no âmago do espírito humano. Mas Ele não anulava a arte de pensar; pelo contrário, era um mestre excepcional nessa arte. Cristo não discorria sobre uma fé sem inteligência. Para Ele, primeiro deveria exercer-se a capacidade de pensar e reflectir antes de crer, depois vinha o crer sem duvidar. Por isso, Ele também era um mestre sofisticado no uso da arte da dúvida, usando-a para abrir as janelas da inteligência das pessoas que o circundavam. Era um ousado questionador, que usava a arte da pergunta para conduzir as pessoas à interiorização e a se questionar. Um dos maiores problemas enfrentados por Cristo era o cárcere intelectual em que as pessoas viviam, ou seja, a rigidez intelectual com que elas pensavam e compreendiam a si mesmas e ao mundo que as envolvia. Somos uma conta bancária, um título académico, um estatuto social? Não. Somos o que sempre fomos, seres humanos. Para Cury, as raízes da solidão começam a ser tratadas quando aprendemos a ser apenas seres humanos. Parece ser contraditório, mas temos grandes dificuldades em retornar às nossas origens, porque não aprendemos a interiorizar-nos e a procurar ajuda mútua, não conseguimos remover as nossas maquilhagens sociais, e ficamos agarrados à televisão e à internet, quando os prazeres mais ricos da existência, como a tranquilidade, as amizades, o diálogo que troca experiências existenciais, a contemplação do belo, são conquistados pelo que somos, e não pelo que temos. Cristo não frequentou os bancos de uma escola, nem cresceu aos pés dos intelectuais da época, dos escribas e fariseus, mas frequentou a escola da existência, a escola da vida. Nessa escola, conheceu profundamente o pensamento, as limitações e as crises da existência humana. No anonimato, passou pelas angustias, dores físicas, opressões sociais, dificuldades de sobrevivência, frio, fome, rejeição social. Na escola da existência, os títulos académicos, o estatuto social e a condição financeira não refletem a riqueza interior, nem significam sucesso na liberdade de pensar, na arte da contemplação do belo, no prazer de viver. A escola da existência é tão complexa que nela se pode ler uma infinidade de livros de auto-ajuda e continuar, ainda assim, a ser inseguro e ter dificuldade de lidar com as contrariedades. Na escola da existência o maior sucesso não está fora do homem, mas em conquistar terreno dentro de si mesmo; a maior jornada não é exterior, mas caminhar nas trajetórias do próprio ser, um ser intimamente ligado ao seu Criador, e respectivas leis. Ele queria produzir uma revolução no interior do homem, uma revolução transformadora, difícil de ser analisada. Queria produzir uma transformação nas entranhas do espírito e da mente humana, capaz de gerar tolerância, humildade, justiça, solidariedade, contemplação do belo, cooperação mútua, consideração pela angustia do outro. Ele desejava continuamente romper a ditadura do preconceito e o cárcere intelectual dessas pessoas. Ninguém foi tão longe em querer implodir os alicerces da rigidez intelectual e procurar transformar a humanidade. A ciência não pode dar resposta a tantas questões que subsistem sobre Cristo, nem outras tantas, pois elas entram na esfera da fé, que é intima e pessoal de cada ser humano. A ciência não anula o espírito humano, e talvez um dia, diante dos seus limites, venha a completar-se com fenómenos que ultrapassam os limites da lógica clássica. |