"Vós sois as testemunhas destas coisas" Lucas 24, 48 As biografias de Cristo evidenciam que Ele era uma pessoa aberta e inclusiva. Não classificava as pessoas. Ninguém era indigno de se relacionar com Ele, por pior que fosse o seu passado. Acolhia e dialogava, com gestos profundos e sublimes, rompia com a ditadura do preconceito, destruía toda forma de discriminação e considerava o ser humano especial, independentemente da sua história, da sua moral, dos seus erros, da sua raça. ![]() Cristo criou ricos canais de comunicação com os seus íntimos. Tratou das raízes mais profundas da solidão. Construiu um relacionamento aberto, ricamente afectivo, despreconceituoso. Valorizou elementos que o poder económico não pode comprar, que estão no cerne das aspirações do espírito humano, no âmago dos pensamentos e das emoções. Ele reorganizou o processo de construção das relações humanas entre os seus discípulos. As relações interpessoais deixaram de ser um teatro superficial para ser fundamentadas num clima de amor poético, regado por solidariedade. Os jovens pescadores que o seguiram, tão limitados culturalmente e que possuíam um mundo intelectual tão pequeno, desenvolveram a arte de pensar, conheceram os caminhos da tolerância, aprenderam a ser fiéis às suas consciências, vacinaram-se contra a competição predatória, superaram a ditadura do preconceito, aprenderam a trabalhar as suas dores e as suas frustrações, enfim, desenvolveram as funções mais importantes da inteligência. Ele não falava de regras de comportamento, de crítica à imoralidade, de conhecimento religioso. Ele discursava sobre a necessidade do homem ter prazer no seu sentido mais pleno. Teve a coragem de dizer que podia gerar no cerne do ser humano um prazer que flui continuamente, uma satisfação plena, um êxtase emocional que poderia resolver a sua angustia existencial: a vida em comunhão com o Criador. Através dos seus momentos de silêncio, as suas parábolas, as suas reações surpreendentes, estimulava os seus incultos discípulos a rever e reescrever, com liberdade e consciência, os seus conflitos diante da vida, para que se transformassem num grupo de pensadores, capazes de tocar juntos a mais bela sinfonia de vida... As pessoas que ficavam íntimas de Cristo perdiam espontaneamente o medo de assumir a sua história, interiorizavam-se e tornavam-se fortes, reconhecendo as suas fragilidades, o que fazia com que se tornassem saudáveis emocionalmente. Como pode alguém que nasceu há tantos séculos, sem qualquer privilégio cultural e social, demonstrar um conhecimento tão profundo sobre a inteligência humana? Uma resposta que se vê muito mais complexa do que estudar Freud, Jung, Platão ou qualquer outro pensador. "Naquele tempo, Jesus chamou os doze Apóstolos e começou a enviá-los dois a dois. Deu-lhes poder sobre os espíritos impuros e ordenou-lhes que nada levassem para o caminho, a não ser o bastão: nem pão, nem alforge, nem dinheiro; que fossem calçados com sandálias, e não levassem duas túnicas. Disse-lhes também: «Quando entrardes em alguma casa, ficai nela até partirdes dali. E se não fordes recebidos em alguma localidade, se os habitantes não vos ouvirem, ao sair de lá, sacudi o pó dos vossos pés como testemunho contra eles». Os Apóstolos partiram e pregaram o arrependimento, expulsaram muitos demónios, ungiram com óleo muitos doentes e curaram-nos." São Marcos 6,7-13. Mas porque não teriam terminado esta investida ao ver o seu Mestre humilhado e assassinado em público, ficando sós com a possibilidade de retomar uma vida "normal"? Qual o porquê de terem continuado até às últimas consequências, quando sabiam que não lhes esperava melhor destino? Os quatro evangelhos relatam a morte de Jesus em pormenor. Mas da mesma forma relatam, também, a ressurreição, ascenção e descida do Espirito Santo. Entende-se que se as experiências que os discípulos passaram com Jesus em vida, mais fortes ainda se terão tornado com os fenómenos que testemunharam após a sua morte, e não mais puderam calar. "Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar. De repente veio do céu um ruído, como que de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam sentados. E lhes apareceram umas línguas como que de fogo, que se distribuíam, e sobre cada um deles pousou uma. E todos ficaram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que falassem." Atos dos Apóstolos 2,1-4 Quem é São Tiago Maior? Tiago Maior era irmão de João, filho de Zebedeu e pertencia ao grupo dos apóstolos mais próximos de Jesus, junto com Pedro e João. Ele esteve presente em vários acontecimentos importantes da vida de Cristo, e em todas as listas dos apóstolos aparece entre os três primeiros, ficando evidente a sua importância nas primeiras comunidades cristãs. O seu lugar de liderança no grupo dos doze, é reconfirmado por São Paulo, que o considerou uma das colunas da Igreja (Gálatas 2,9), um dos grandes na Igreja primitiva. No entanto, apesar de São Tiago ocupar um lugar tão importante entre os doze, pouco se sabe sobre ele. Na maioria das vezes aparece junto ao seu irmão João. Sabe-se que era pescador e que Jesus o chamou a ser pescador de homens, onde prontamente deixou tudo e o seguiu (Lucas 5, 1-11) e que era um galileu tipicamente impulsivo e tempestivo, o que fez com que junto a seu irmão João fosse apelidado de Boanerges, “Filho do Trovão” (Marcos 3,17), desejando ocupar um grande posto no Reino de Cristo (Marcos 10, 35-45; Mateus 20, 20-28). A única vez em que aparece separado de João é no momento de seu martírio (Atos dos Apostolos 12, 1-2). Tiago morreu pela espada, a mando do rei Herodes. A Sagrada Escritura permite concluir o seguinte em relação a Santiago: Foi o primeiro apóstolo que foi mártir. Amou tanto a Cristo que esteve disposto a ganhar a coroa do martírio, vencendo a covardia e o ódio dos seus perseguidores com coragem, amor e perdão. “Não sabeis o que pedis. Podeis vós beber o cálice que eu devo beber? Sim, disseram-lhe. De fato, bebereis meu cálice.” (Mateus 20, 22-23). Apesar de sua vida ter sido curta se comparada à do seu irmão João que viveu quase cem anos, teve o mesmo destino de Cristo: beber o cálice do martírio. Não teve medo de anunciar a Cristo e sofrer as consequências, mesmo que isso lhe custasse a vida. Quando Jesus o chamou deixou a sua vida e seguiu-o. Embora os seus pais tivessem uma situação econômica acima da média, seria já nessa altura seguidor de João Baptista. Esta sua fé e confiança aparece no episódio em que junto com seu irmão João pede a Cristo terem os primeiros lugares no seu Reino. Uma aproximação superficial pode levar a crer apenas que se tratava apenas de uma ambição humana, um desejo de poder. Porém vendo o contexto, o menos provável era que Jesus pudesse sentar-se em algum trono deste mundo. Ele era um pregador galileu, que estava seguindo um caminho que estava condenado a chocar com o poder das autoridades e acabar em um desastre inevitável. Em meio a essa situação aparentemente sem esperança, ele nunca duvidou de que Jesus era um Rei. Santiago seria humilde e não invejoso ou ciumento, pois da mesma forma que André viveu à sombra de Pedro, ele viveu à sombra de seu irmão João, conhecido como o “discípulo amado do Senhor”. A sua humildade e o assumir o seu papel na missão que Cristo tinha para ele, fez com que ele saísse triunfante e tivesse um papel fundamental na fundação das primeiras comunidades cristãs. Após a morte de Cristo, continuou a crescer o número de cristãos atraídos pela pregação e pelos milagres dos apóstolos, mas alguns judeus, caluniando os discípulos de Cristo, continuavam a perseguir a Santa Igreja, maltratando e mesmo matando muitos cristãos. Então os apóstolos não tiveram alternativa senão empreender no que lhes havia sido mandado por Cristo, de sair pelo mundo e espalhar a boa nova a todas as criaturas. Segundo a tradição, São Tiago Maior foi então incumbido de ir pregar às províncias da Espanha, e, antes de partir, pediu a bênção de Maria Santíssima, tal como os demais apóstolos de Cristo, por ser ela que os aconselhava e consolava nas perseguições e desalentos. Reza a história que Maria assim lhe falou: “...naquela cidade da Espanha em que maior número de almas converteres à fé, edifica uma igreja em minha memória, conforme o que eu te manifestar.” De Jerusalém, São Tiago seguiu até Sicília e Espanha, e segundo a tradição, foi em Iria Flávia (actual Padrón, Galizia), que o apóstolo Santiago pregou pela primeira vez durante a sua estadia de evangelização da Hispânia, onde terá chegado em 34 d.C. Não sendo bem recebido, foi salvo milagrosamente por um anjo, de ser assassinado. Deixou a Espanha entregue a sete discípulos. Voltou mais tarde para Zaragoza, onde então, começaram conversões em grande número. Mesmo assim, os perigos eram muitos. Conta a lenda que lançaram víboras contra ele, que as segurava tranquilamente nas mãos. |